Festa nacional na Espanha alimenta polêmica sobre independência da Catalunha

Aléx Garcia Fernández. Foto: Liana Aguiar
Aléx Garcia Fernández diz que sua prioridade é lutar pela independência. Fotos: Liana Aguiar
No dia em que se celebra o Dia da Pátria na Espanha, esquenta a polêmica sobre a independência da Catalunha, região no nordeste, cuja principal cidade é Barcelona.
Por um lado, estão os separatistas que afirmam que não se identificam com a festa nacional que comemora o descobrimento da América. Em desafio ao feriado, visto como uma celebração nacionalista espanhola, algumas instituições, escolas e comércio na região abrirão suas portas.

Divulgada nesta semana, uma pesquisa do Centro de Estudos de Opinião do governo da Catalunha mostra que 74,1% dos catalães são a favor de que se convoque um referendo sobre se a região deve ser um novo Estado da Europa, e 19,9% se declararam contra.Por outro lado, um grupo de catalães escolheu a data para expressar o sentimento contra a independência e convocaram em Barcelona um movimento cívico pela unidade da Espanha e da Catalunha. A concentração pretende ser uma resposta à manifestação pela independência do último dia 11 de setembro, que reuniu 1,5 milhão de pessoas nas ruas da cidade.
A enquete também indica que 31% se identificam somente como catalães, 28,3% se dizem mais catalães do que espanhóis e 31,9% se sentem tanto espanhóis quanto catalães.
Recentemente, o Parlamento catalão aprovou a realização de um polêmico referendo para a próxima legislatura, que será formada após as eleições de 25 de novembro, que vão escolher o presidente do governo da Catalunha. Para ir adiante, no entanto, o referendo precisa de aprovação do governo central.

Consequências

Segundo o cientista político e escritor Josep Ramoneda, Madri não está aberta ao diálogo sobre o referendo.
"Ao nacionalismo espanhol custaria muito aceitar a ferida narcisista se uma parte se desgarra", disse à BBC Brasil.
A viabilidade política do projeto separatista esbarra no que Ramoneda chamou de "nacionalismo espanhol". Ele vê, no entanto, viabilidade econômica numa possível ruptura, uma vez que a região é rica e com expressivo potencial industrial e exportador.
Ramoneda analisa que crise atual na Espanha não é fator desencadeante da onda separatista, mas sim o "catalanismo" político, que retomou o debate, e, principalmente, a mudança de mentalidade das gerações. Nos últimos 30 anos, com a restauração da democracia, questionamentos sobre a independência puderam vir à tona após um longo período de repressão da ditadura franquista.
Ele ressalta que a crise serviu para fomentar a ideia da injustiça fiscal, "que é real". De tudo o que Catalunha arrecada com impostos, somente a metade é devolvida.
Segundo ele, o maior temor para o governo central é que a economia espanhola sem a Catalunha se torne insolvente e isso represente a saída do euro. A ruptura significaria para a Espanha a perda de 18% a 20% do PIB.
Josep Ramoneda diz que problema fiscal é real, pois Catalunha contribui com mais do que recebe
Josep Ramoneda. Foto: Liana Aguiar







Esta semana, o ministro da Educação, José Ignacio Wert, afirmou que o interesse do governo é "espanholizar os alunos catalães", o que esquentou ainda mais a polêmica.
Para Ramoneda, o comentário reflete "um nacionalismo primitivo".

"É um erro político grave, que pode influenciar o rumo das eleições na Catalunha", disse Ramoneda, referindo-se ao fortalecimento de políticos pró-independência.